"A dor é inevitável, o sofrimento é opcional"


(Autor desconhecido)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Parte 03 - Primeira tentativa

Podendo vocês, caros amigos imaginar todas as imprecações pelas quais nosso destemido cronista precisou passar depois disto, eis a primeira tentativa de retratação publicada no blog do jornalista de Goiás:




“Crônicas e reações

Desde que me tornei cronista, redigi alguns textos que geraram reações. Algumas positivas, outras negativas. Isso é normal, faz parte do jogo. Quem publica, se presta à avaliação do público, o que é salutar.

O lamentável, às vezes, é que esse julgamento se dá em parâmetros equivocados. Foi isso o que ocorreu com meu mais recente texto, uma crônica em que coloco em dúvida a existência do Amapá. Recebi e-mails, fui "elogiosamente" referido no twitter e também neste blog por cidadãos do Amapá indignados com minha "ignorância", meu "desrespeito" e minha "burrice".

Comentários normais, não fosse o fato de o texto ter sido lido, em quase 100% do que comentaram, de forma totalmente equivocada. Acharam que a crônica era artigo de opinião, reportagem jornalística ou coisa que o valha. Equívoco, e dos grandes.

Crônica é o resquício de literatura nos jornais e, portanto, não tem o compromisso com a verdade dos fatos como deve ter as matérias jornalísticas. A crônica também não exprime necessariamente a opinião de quem a escreveu, já que não se trata de um artigo. É um texto de ficção, que pode falar de atualidades e se basear em fatos reais, ou não.

Já fiz crônicas em que ameaçava matar pinchers a pisadas. Matei algum? Claro que não. Já inventei uma personagem, a Dona Iraci, que é uma velha fofoqueira e maledicente. Ela existe. Não. Já falei sobre as mais diversas bobagens, ironizando ou brincando com questões que mexem com o imaginário coletivo. Penso tudo o que escrevi? Claro que não.

Com o Amapá ocorre a mesma dinâmica. Claro que sei que o Amapá existe. Ainda não estou esclerosado. Claro que eu conheço pessoas do Amapá. Tirei sarro delas. Claro que sei o que é ser discriminado. Goiás também é. Aliás, muitos dos comentários, esses nada cronísticos e sim raivosos e descontrolados, demonstraram os preconceitos das pessoas em relação a Goiás.

Quando se escreve uma crônica, com a liberdade de criação que ela permite, imaginamos que os leitores também terão a abstração do autor, entrarão em um mundo possível, mas não real. Literatura, não importa de que qualidade seja, aposta nesse acordo tácito. Machado não morreu para escrever Memórias Póstumas com seu "narrador defunto". Guimarães Rosa não se tornou um jagunço para poder criar as histórias de Riobaldo em Grande Sertão: Veredas. E mesmo Flaubert, que declarou que "Madame Bovary c'est moi" não era, ele próprio, uma esposa adúltera.

Aos mais ofendidos pela crônica, não peço desculpas: peço mais abstração. Na crônica, que tem espaço reservado no jornal, com anúncio em letras garrafais, no suplemento de cultura, para que não paire dúvidas a respeito de sua natureza, é necessário imaginar e não se ater ao pé da letra do texto.

Passo a moderar os comentários neste blog porque minha mãe não tem nada a ver com os que leram errado minha CRÔNICA.

Abraço aos seguidores deste blog.

OBS: Ah, e para que não pairem dúvidas, sei que o Amapá existe sim. Sei há muito tempo, muito antes do Google, que me foi tão singelamente indicado por muitos.”

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