"A dor é inevitável, o sofrimento é opcional"


(Autor desconhecido)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Parte 10 - Geissy

De todos os vários textos, com os mais variados níveis de exaltação que tive o prazer de ler, aquele que mais me despertou interesse, que mais me chamou a atenção e me tocou mais profundamente foi este depoimento:




Geissy disse:

“Ao ler sua crônica fez-me lembrar de vários acontecimentos em minha vida. já morei em outros estados alem do meu e ao chegar, ao conhecer pessoas, sempre tinha aquele amigo que começava com a piada:"A Geissy vem do Amapá, sabiam que onde ela mora desligam o gerador de de luz as 8 da noite e que ao andar pelas ruas você cruza com onças, capivaras e vários outros animais???... hahaha!" então todos começavam a rir. Minha replica sempre foi a seguinte: " tirando a parte das onças, existem locais onde realmente o gerador de energia é desligado as 8, 9 ou 10 da noite, assim como também tem lugares onde nem gerador existe. Tal como a casa do meu avô... íamos pra lá sempre. Meu pai deixava o carro perto do lugar onde pegávamos canoas e íamos rio acima até a casa do meu avô (minha mãe sempre pedia pra parar a canoa ela pegava alguma espécies diferente de samambaia, ela adora!!). La a luz era à lamparina (lampião). Adorava aquilo, corríamos pela mata, comíamos frutas frescas (certa vez tivemos que fugir de cobra) mas o melhor era ao fim do dia, quando anoitecia. Na casa não tinham quartos, era como um grande salão de festas e todos atávamos as redes formando um grande circulo (víamos uns aos outros) e começava a grande hora: meu avo (semi-analfabeto das letras) contava estorias, muitas delas reais, outras contos de fadas que certa vez ele ouvira... viajávamos horas em suas palavras ate o silencio nos acalentar e dormirmos... Outras vezes iamos para casa de um tio (La havia energia eletrica) acordávamos cedo da manha e íamos tirar leite de vaca, tomar banho de rio todos os dias e ouvir muitas, muitas estórias... Alem de visitarmos lugares, também moramos em vários outros, minha mãe era professora e lecionou por muitos anos nos interiores do estado (iclusive eu nasci em um deles, Foz do Rio Macacoari, meu pai fez o parto), moramos no Cachorrinho, Ilha dos bois... e de cada lugar muitas estórias escutadas e vividas."

Ao final de minha replica via o brilho nos olhos dos meus amigos e completava "Sim, onde moro é exatamente assim." E todos riamos, pra variar zoavam um pouco mais comigo porém com outro tom nas palavras.

Hoje vivo no exterior, já conheci alguns países e pessoas de outros lugares do mundo. Hoje a piada é outra: 'A Geissy vem do Brasil, lá é só violência, tiro pra todo lado...' Isso me toca profundamente, sinto uma pontada de tristeza, pois amo o Brasil, então minha replica é a seguinte: " Realmente nas grandes cidades, o índice de criminalidade é altíssimo, reflexo da super população, milhões e milhões de pessoas tentando sobreviver no mesmo espaço. Mas nem todos os lugares são assim..." então começo a falar do meu estado e mostro fotos (pois as tenho no celular) e conto estórias. Com brilho nos olhos eles me dizem ' você não precisa estar aqui, nós vamos pra lá morar com você...' e começam as risadas.

Sou fã das crônicas (adoro Arnaldo Jabor), mas sinceramente felizmente através da sua crônica só pude constatar, muito feliz, o porque amo tanto 'meu lugar', Amapá. Somos povo guerreiro!! Obrigada pelo espaço!”





Sem duvida é um texto que eu teria adorado ler nas paginas de um jornal aqui neste (e agora tenho certeza disto) tão amado estado.

A forma simples e apaixonada com que nossa heroína relata suas experiências pelo interior deste paraíso ao qual eu tenho o maior prazer em chamar de lar era algo que eu não podia deixar apenas para aqueles que se dessem ao trabalho de acessar a pagina de comentários do blog do Rogério Borges. E que me permita a senhora – ou senhorita Geissy, dizer que é uma imensa satisfação saber que temos no exterior cidadãos amapaenses como você, que carregam suas origens no bolso e defendem com tanta ternura e competência este pedacinho encantador da Amazônia.

Já estive no Cachorrinho, localidade mencionada no texto e que fica no município de Pedra Branca do Amapari, localizado na região centro-oeste do estado, há cerca de 190 km da capital. Estive lá em três oportunidades e, infelizmente, apenas uma delas a lazer. Arrisco dizer que aquele foi o melhor fim de semana que já tive na minha vida! O relato da Geissy me fez retornar a ele... Lembrar da luz oscilante das velas, da casa enorme com redes se entrelaçando por todo lado, das trilhas emocionantes que tínhamos que fazer para chegar até as outras casas, e das estórias (ah! As estórias...) que ouvíamos dos nossos anfitriões. Espero em Deus que eu ainda possa desfrutar daquela rusticidade apaixonante mais vezes.

Não sei como nem onde encontrá-la, mas saiba que se seria um imenso prazer saber que você leu estas singelas palavras deste, desde já, admirador seu. Parabéns! É um prazer poder dizer que sou do estado da Geissy.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que você achou desta postagem?